quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

VELHAS RAPOSAS SEM CAUDA

Nas mais recentes eleições autárquicas na cidade de Lisboa, mais de metade dos votantes não optaram pelos candidatos do PS nem do PSD. Cerca de 55 por cento dos votos foram para listas alternativas às dos tradicionais partidos do “centrão”. Foi a derrota evidente dos que se julgam donos de uma espécie de “curral eleitoral” e ameaçam tudo e todos com o papão do voto útil. Para o PS e PSD, todos os outros, sejam listas de cidadãos ou partidos, devem-se submeter, ser assimilados ou simplesmente desaparecer, em função das suas próprias lógicas e interesses eleitorais.

Acabam por se tornar ridículos e fazer lembrar a fábula em que as velhas raposas, com medo de perderem as caudas, tentam convencer as outras de que ficariam mais bonitas e até se livrariam de um peso inútil, se cortassem as suas próprias caudas. De facto, PS e PSD começam a ver as suas vidas a andar para trás. Os eleitores que não votaram no “centrão” e optaram por listas alternativas, quase duplicaram em Lisboa, entre as autárquicas de 2005 e as intercalares de 2007. Perguntou, então, uma das raposas mais novas: “se não tivesses perdido a tua cauda, também nos aconselharias a cortar as nossas?”

Porém, a um ano das próximas eleições o espectáculo já começou e há mesmo quem ache que é preciso votar num para impedir a vitória de outro. De todas as fábulas, o que mais interessa é retirar a respectiva lição. Nesta das velhas raposas, é óbvia: ”tem cuidado com quem te dá conselhos tendo em vista os seus próprios interesses.”

Foi por ser uma Câmara com uma composição plural, sem maiorias absolutas, que se conseguiu no actual mandato a aprovação de propostas tão importantes como as da integração dos trabalhadores precários, do plano verde ou do orçamento participativo. Se PS ou PSD tivessem conseguido maiorias confortáveis que lhes conferissem poderes para decidir absolutamente, estas propostas não teriam passado e nada teria mudado. Que não haja qualquer dúvida sobre isso.

Pois bem, evidenciando um estranho nervosismo, António Costa e Santana Lopes apressaram-se a apresentar as suas próprias candidaturas para as próximas autárquicas. Talvez seja apenas o tal problema de caudas que costuma atormentar as velhas raposas. Nada de grave.

Pedro Soares escreve no JN à 5ª feira

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente!!! Boa denúncia da demagogia.

Anónimo disse...

Um escrita perspicaz bem ponderada e fabulada! Continue!