quinta-feira, 3 de julho de 2008

O DIREITO À EXPECTATIVA NA MOURARIA


É comummente aceite que a Mouraria transporta até aos dias de hoje uma memória de inestimável valor cultural. Os momentos do tecido urbano medieval, os edifícios de tipologia pré-pombalina e pombalina e o intrincado da malha urbana irregular que o caracteriza, tornam este núcleo histórico único no contexto de Lisboa.

Ainda nos dias de hoje, esta amálgama orgânica de pátios, vilas e antigas casas senhoriais, de terreiros, becos e escadinhas, continua a articular-se com uma geografia social profundamente marcada. Não se trata apenas do fado, das sardinhas e das festas populares. São as classes trabalhadoras que lhe desenham o quotidiano, o comércio tradicional que povoa as vielas e as sucessivas vagas de imigrantes que renovam o bairro. Todos lhe conferem forte identidade e carácter, constituindo este o valor mais elevado a preservar, o da vivência comunitária que proporciona verdade e espessura cultural.

O edificado da Mouraria encontra-se em geral degradado e, nalguns casos, em ruína, resultado do desinvestimento de décadas com a marca da segregação e da discriminação social. Contudo sobreviveu. Agora, o potencial turístico do núcleo histórico torna consensual que a sua reabilitação é absolutamente necessária. São conhecidas as intenções do município nesse sentido e aguardam-se financiamentos.

Mas a população quer ter papel na reabilitação do bairro. Constituiu a Associação Renovar a Mouraria, ganhou presença na blogosfera e lançou uma petição on-line com o objectivo de reunir vontades a favor da “tomada de medidas para a reabilitação e revitalização da Mouraria”. Na passada semana, conseguiu fazer chegar à reunião de Câmara uma proposta, incompreensivelmente rejeitada, para promover com as freguesias a discussão pública de um conjunto de ideias sobre reabilitação, mobilidade, animação cultural, equipamentos e participação cidadã.

Com toda a legitimidade, os cidadãos da Mouraria não se conformam em permanecer como meros espectadores de uma intervenção que se resuma à economia do turismo ou mesmo a sujeitarem-se a um processo de “gentrificação” que acabaria por os expulsar, literalmente, do seu próprio bairro. Assumem-se como parceiros, são os principais interessados e têm direito à expectativa de melhorar as suas condições de vida. Trata-se de capital cívico que não deveria ser desperdiçado. Já devíamos ter todos aprendido que as instituições democráticas só têm a ganhar com o exercício da cidadania.

Pedro Soares escreve no JN, semanalmente, à quinta-feira.
psoares@be.parlamento.pt

21 comentários:

Anónimo disse...

Óh Zé, tu não fazes mesmo falta ao BE nem a ninguém!
Ontem disseste que a foi bem chumbada a proposta que nos defendia e votaste contra ela.

Anónimo disse...

o que é que quer dizer este anoninmo, qual foi a proposta e porque é que o Sá Fernandes disse que foi bem derrotada,

È que assim fica tudo ás nora sem perceber patavina.

Proposta que nos defendia, defendia QUEM?

E que proposta?

Anónimo disse...

Caro anónimo (2)

Tem toda a razão! Nem o texto do Pedro Soares nem o anónimo (1) esclarecem bem sobre a intenção da proposta...

A dita em causa é uma proposta apresentada pela Helena Roseta (Cidadãos por Lisboa), com base numa petição elaborada por um associação local (Renovar a Mouraria) e que defende que haja uma discussão pública sobre as medidas para reabilitar o Bairro da Mouraria...

Acontece que a proposta, que no fundo não basta da transposição da vontade da Associação Renovar a Mouraria - representante dos moradores - foi chumbada com os votos contra do PS, PSD, PCP e também do BE....

O que é curioso é que o "Zé", que disse agora que a proposta "era bem chumbada", antes todavia andou lá durante a campanha eleitoral e defendia a reabilitação do bairro e o envolvimento do moradores...

VÁ SE LÁ PERCEBER COMO PENSA A CABEÇA DESTE "ZÉ" ????

Abraços gélidos,
Pai Natal

P.S.
O que seguirá? Um voto do "Zé" contra o próprio Plano Verde? :-)

Anónimo disse...

Ainda bem que o Pedro Soares levantou esta questão porque também não tinha percebido nada do voto do Sá Fernandes contra a proposta da Mouraria. Obrigado pai natal pelos esclarecimentos e pela indignação.

Anónimo disse...

Continuo sem perceber porque é que a proposta foi chumbada por todos á excepção dos próprios? Qual foi a justificação do voto contra, quando ao que parece, pelo menos PCP e Bloco têm dito ser a favor da recuperação da Mouraria?

Anónimo disse...

Realmente continuo sem perceber, existe um movimento, que se intitula Renovar Mouraria.

Quem são ?
Moradores do Bairro?
Cidadãos preocupados pela dedgradação de decadas desse bairro de Lisboa?

Ou movimento criado por apoiantes de Helena Roseta, como forma de ter acesso aos jornais e tempo de antena?

Quais as suas propostas?

Que participação activa teve até agora, a população residente nas acções que este grupo hipoteticamente terá levado a cabo,

É que aquela zona, foi durante a campanha eleitoral uma das preocupações do José Sá Fernandes, mas tambem do PCP, e é estranho que logo os dois partidos, tenham votado contra a proposta.

Algo está muito mal explicado.

Ainda há dias houve arraial que o Carmona tinha proibido, não me consta que esta vereação tenha algo contra o povo da Mouraria, antes pelo contrario.

Há algo em toda esta historia que está muito mal contado....

Por isso quem estiver interessado em esclarecer os habitantes dos outros bairros de Lisboa, tem de ser mais claro.

Ou então fico a pensar em mais uma campanha organizada,com o objectivo o habitual, o Zé incomoda muita gente....

Anónimo disse...

"movimento criado por apoiantes de Helena Roseta"?

Nem por isso!
...a piada é que este movimento foi criado por apoiantes do Bloco de Esquerda...
É ver que o Zé nem aos seus faz falta...

E esta, hem?

Anónimo disse...

Repito quais as propostas que mereceram a reprovação de todos os partidos, Sá Fernandes e PCP incluidos ,e só tiveram apoio da Helena Roseta.

Até agora ninguem esclareceu,

E como querem que assim alguem possa ter uma ideia clara do que estava em causa na dita proposta...

Se se quer debater com seriedade, têm de se esclarecer as dúvidas....

Será que este anonimo anterior está interessado nisso, ou só criticar o Sá Fernandes?

Se fôr lógico aquilo que disser, eu serei o primeiro a dar a mão á palmatoria , e dizer que o Sá errou, mas conhecendo o seu empenhamento e já agora diga-se em abono da verdade dos militantes do PCP nessa zona degradada da cidade, estranho que os dois partidos, tenham recusado a tal proposta,de que desconheço TOTALMENTE o teor, e ainda não vi aqui ninguem interessado em explicá-la.

Isabel Faria disse...

Pelo que sei a votação´contra do Sá Fernandes foi a de colocar o projecto a discussão pública, como se colocou a Frente Ribeirinha, por exemplo.
Era essa a proposta da Roseta que foi chumbada.
Agora não me perguntes porque o JSF e o PCP votaram contra que também ainda não entendi.
Se tivers paciência, talvez te possa explicar na Segunda-feira à noite...te possa explicar a posição de Sá Fernandes, entenda-se. A do PCP talvez eu não seja a pessoa indicada..

Anónimo disse...

Eu acho que o Sá Fernandes devia agora contra-atacar para ficar de bem com o Pedro Soares e devia fazer uma proposta para reabilitar todos os bairros sociais da cidade, com electricos rápidos e ciclovias a liga-los a todos e jardins e lagos e flamingos e tudo.

É demasiado ridículo? Então uma proposta em que se põe à discussão pública nos ditos bairros sociais se querem ou não a reabilitação, com lagos, jardins, eléctricos, ciclovias e flamingos. Que tal?

A Arq. Helena Roseta aprova com toda a certeza! Os outros chumbam. Pelo menos já são 3 votos e sempre podem ir para a campanha eleitoral dizer que o PS e o PCP não querem a reabilitação dos bairros sociais.

Anónimo disse...

O anónimo anterior está tentar ridicularizar a proposta dos moradores da Mouraria apenas para desculpar o voto do Sá Fernandes. Isso é muito pouco sério e demonstra o carácter da pessoa. Cá para mim o único problema da proposta da Roseta é apenas ter sido apresentada por ela.

Anónimo disse...

É muito duvidoso que a associação da Mouraria seja uma criação da Roseta.
O B. Aranda fez um escrito aqui neste blog a divulgar a associação http://gentedelisboa.blogspot.com/2008/06/h-arraial-na-mouraria.html
Não acredito que se fosse uma coisa da Roseta o B. Aranda que é do Sá Fernandes e da concelhia do BE fizesse tanta divulgação. Olha quue menino!

Anónimo disse...

Se a politica ainda tem alguma seriedade, todo este debate está á partida inquinado.

Se são simpatizantes do Bloco que incentivaram a criação deste grupo de defesa da Mouraria, o debateram com a população, seria logico que discutissem as suas propostas com o Sá Fernandes, ou até com um dos seus assessores por exemplo o Bernanrdino Aranda, já para não falar com o BE de Lisboa.

Era isto que eu faria, até para corrigir algum ponto, que podesse não estar redigido segundo as normas do PDM , ou as normas que estão em vigor em Lisboa.

Parece-me que a proposta surge publicamente apresentada e apoiada pela Helena Roseta, e tem a reprovação de todas as restantes forças politicas representadas na Camara, enre elas o Sá e o PCP.

Não é por a proposta ser apresentada seja por quem fôr, que ela deve ser recusada ou aprovada, ( apesar de nós saber-mos que propostas do Sá Fernandes têm 80% de certeza de chumbo garantido), deve ser acima de tudo o interesse do povo de Lisboa, e a viabilidade das propostas que deve prevalecer.

Como digo, estranho que não tenham discutido com o Sá ou com alguem o seu gabinete , a dita proposta antes de a terem apresentado.

E desculpem não me venham com a velha cantiga de que ele não os atendeu, porque hoje em dia por mail, consegue-se rapidamente explicar tudo o que se pretende, e o Sá Fernandes, nunca recusou receber nenhm municipe que queira com ele tratar de assuntos do interesse da cidade.

O tempo pode por vezes ser pouco, e a pessoa não se pode partir, mas quando há vontade politica de ambas as partes de realmente se discutirem as propostas , encontra-se sempre forma de conciliar os tempos.

Terão os amigos do grupo de defesa da Mouraria sequer tentado....

Desculpem mas tenho as minhas razões para ter muitas dúvidas.

Augusto Pacheco

Anónimo disse...

Oh meu caro anónimo
(que procura uma explicação para tudo isto)

A explicação é bastante simples...

O SÁ FERNANDES FEZ BURRADA OUTRA VEZ!

Aqui vai a explicação detalhada:
A associação Renovar a Mouraria - que tal como já foi aqui apontado, nasceu da iniciativa de pessoas do BE - queria que a proposta sobre a reabilitação do bairro fosse a discussão na Câmara. Enviou a petição que organizou para todos os partidos. Ninguém lhe pegou, excepto a Roseta que fez uma proposta que punha à discussão pública as ideias e propostas que eles tinham na petição. Ela enviou-lhes a proposta antes para ver se eles concordavam. Eles disseram que sim e a proposta foi apresentada...
A seguir os partidos todos fizeram uma enorme birra e votaram todos contra cheios de ciúme... e a Mouraria ficou a perder!

Que dizer de tudo isto? Quem agiu mal nesta história? Com que justificação todos os partidos votam contra a proposta? Têm todos medo da discussão pública?

Anónimo disse...

... e mais acrescento!

Fiquei muito desiludido com esta atitude do Sá Fernandes - no qual votei nas últimas eleições - e não percebo porque razão ele está a meter argoladas, umas atrás das outras... Leio os jornais e só vejo asneiras do BE em Lisboa!
Mas garanto uma coisa, não me enganam outra vez!

No Sá Fernandes, nunca mais!

Anónimo disse...

Manuel Gusmão ao contrario do senhor , eu não enviaria para o Partido em que voto a petição, ia falar directamente com o vereador sobre ela.

Esta é a diferença.

Tambem estranho que só a Roseta lhe tenha pegado, talvez porque alguem dos organizadores da petição lha tenha ido entregar pessoalmente, já confirmou?

Sabe nestas coisas da politica, há muitas maneiras de matar coelhos, uma delas é que a realidade que pretendemos apresentar não é exactamente como a escrevemos.

Bernardino Aranda poderá esclarecer, em que condições esta petição chegou ao Gabinete de Sá Fernandes, e quais os pontos mais polémicos que levaram á sua rejeição , por todas as restantes forças politicas, BE e PCP incluido ?

Agradecia porque penso que o sr Manuel Gusmão, e nós todos os que apoiamos o Sá Feernandes e elogiamos o seu trabalho, tambem gostamos de saber se neste caso ele errrou.

Anónimo disse...

O Sá Fernandes assinou a nossa petição sobre a renovação da Mouraria. O Sá Fernandes teve conhecimento da proposta que foi à câmara. Chegou a dizer a alguém que a iria subscrever com a Roseta. Á última das horas, népias. Porquê?! Eu até sei que as pessoas do BE estavam de acordo com a proposta. Porquê o voto não dele?

Anónimo disse...

Como é, ninguém esclarece? Para que serve este blog?

Anónimo disse...

Já devem ter entrado de férias...

Anónimo disse...

Isto é uma chatice, cada vez que surge uma questão polémica fica sem resposta. Isso só dá razão a quem ataca o Bloco. Afinal não temos assessores pagos para tratar destas coisas?

Anónimo disse...

Assessores? O BE? Os assessores na CML são assessores do ZÉ, não do BE! E vale a pena lembrar que o Vereador fez questão de esclarecer que o Grupo Municipal do BE não existe, que o Gabinete é dele! Os assessores estão completamente manietados.

Cabe à concelhia do BE e eleitos do BE responder, afinal é para isso que os órgãos são eleitos, o resto é paisagem, pura militância.

O Zé fez questão de esclarecer que nada tem a ver com o BE, que nada tem de discutir com a estrutura partidária que o permitiu ser eleito. Só assim se explica a saída do Coordenador do Gabinete e a entrada do Líder do Grupo Parlamentar do BE na concelhia. É o BE a querer manter a sua política na cidade!

Enfim, a integridade e honestidade política e intelectual do Zé deixam muito a desejar. Primeiro assina uma petição, depois vota contra o seu conteúdo em reunião de Câmara.Este foi apenas um episódio.

O PSD bem avisou o pessoal logo no início do mandato, quando dizia que o Zé estaria calado!