quinta-feira, 31 de julho de 2008

ALARME NA MATA DOS MEDOS

Desde a construção da ponte e a expansão para sul da área metropolitana de Lisboa que a Península de Setúbal ficou sujeita a todas as arbitrariedades urbanísticas. A aprovação dos PDM veio colocar alguma ordem no território, mas as investidas do imobiliário, com o beneplácito de algumas câmaras, nunca deixaram de existir.

O alarme soou, mais uma vez, junto à apetecível linha de costa, no concelho de Almada. Quase a chegar à Fonte da Telha, para quem vem da Costa da Caparica, encontra-se uma extensa mancha verde muito marcada pela presença de exuberantes pinheiros mansos, com origem na mata mandada semear no Séc. XVIII por D. João V. É a Mata dos Medos, não porque por lá se tenha passado algo de horrível, mas simplesmente porque medos é a outra designação de dunas.

O reconhecimento do seu valor paisagístico e ambiental vem desde 1971, quando foi criada a Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos que, desde 1984, integra a Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica. Sabendo-se disto, passa pela cabeça de alguém construir uma rodovia com quatro faixas ao longo de mais de sete quilómetros, a cortar a mata e a desestabilizar o ecossistema precisamente no seu ponto mais sensível, um verdadeiro santuário botânico de elevado valor ecológico onde perduram pinheiros mansos centenários, exemplares notáveis de zimbro e de outras espécies autóctones?

Sim, infelizmente, passa. Passa pela cabeça dos interesses ligados aos projectos imobiliários na Aroeira que querem uma ligação directa à via-rápida da Costa e a Lisboa, bem como dos que vêem na nova estrada um eixo ao longo do qual surgirão loteamentos e mais oportunidades de negócio. Se assim não fosse, bastaria o alargamento da já existente estrada florestal e a construção em paralelo de uma ciclovia, para melhorar significativamente a mobilidade dos utentes das praias daquela zona.

O que se torna lamentável são as posições da Câmara de Almada e do próprio Instituto de Conservação da Natureza (ICN) que apoiam, facilitam e insistem neste verdadeiro atentado ambiental, já depois de uma sentença judicial que tinha anulado as deliberações municipais que viabilizavam o projecto e de um parecer negativo do ICN, entretanto convenientemente revisto.

É preciso pôr os pés a caminho em defesa do que é essencial e insubstituível. Enquanto se alinda a frente de mar da Costa da Caparica com um POLIS, também a seu coberto se promove a degradação de uma das mais importantes e ainda preservadas áreas verdes da área metropolitana. Absolutamente incongruente e inaceitável.

Pedro Soares escreve no JN, semanalmente, à quinta-feira.
psoares@be.parlamento.pt

1 comentário:

Anónimo disse...

É o resultado das câmaras pcp hipotecadas aos construtores civis. Se fosse só em almada... e na moita?