quinta-feira, 5 de março de 2009

RETÓRICA E NADA MAIS

A retórica passou a ser um elemento essencial da linha política saída do congresso do PS. Retórica para a crise, retórica para o sufoco das famílias, retórica para combater a oposição, retórica para justificar as medidas do governo… A técnica de procurar convencer os outros através de uma oratória pobre de ideias, mas eloquente, com raciocínio lógico, mas sem conteúdo, com crítica ao que está mal, mas falha de acções, é tão antiga como a própria Antiguidade Clássica, mas está a ser inteiramente recuperada por Sócrates.

O mais lamentável é quando o discurso ultrapassa a eloquência e tropeça na boçalidade. É o que tem acontecido no PS. As trauliteirices passaram a fazer parte da oratória de ministros e de altos dirigentes do partido do governo, como aquelas que dizem ter um especial prazer em “malhar na esquerda” ou que tratam os seus adversários por “parasitas”. Porém, ainda mais grave, é o facto de se começar a recorrer à falsidade para justificar a lógica de um raciocínio, motivar o insulto e arregimentar forças contra o “inimigo externo”.

António Costa lançou a atoarda no congresso de Espinho: o Bloco tinha rompido o acordo para a Câmara de Lisboa, ficando assim demonstrada a sua incapacidade para governar. Faltou-lhe dizer quando é que isso aconteceu. O Bloco clarificou, com o vereador que elegeu, a sua posição de defesa do programa eleitoral, precisamente porque não declina o cumprimento dos seus compromissos. Nomeadamente o compromisso da defesa de todas as propostas para a cidade que estão incluídas no acordo que estabeleceu com o PS no período pós-queda da Câmara, num momento de grande crise municipal.

O PS quer agora desresponsabilizar-se desse acordo e atirar para o Bloco o ónus do seu incumprimento. Mais uma vez se atolam na mera retórica. Ou, melhor, na pura mentira. De facto, o PS está a matar esse acordo com a sua própria prática municipal, com o desrespeito pelo espaço público, com a recusa de reestruturação das empresas municipais, com o compromisso pelo negócio dos contentores em Alcântara, com a degradação da frente ribeirinha, com o virar as costas à cidade e o enredar-se no mais rasteiro eleitoralismo.

Se alguma vez teve intenção de o cumprir, as declarações do presidente da Câmara de Lisboa no congresso do PS só podem ter a leitura, óbvia, de que desistiu de honrar o acordo estabelecido. Os dirigentes do PS devem ter chegado a pensar que o acordo de Lisboa se resumiria a um mero processo de assimilação. Enganaram-se redondamente e demonstraram uma extrema falta de respeito por quem se dispôs, com responsabilidade, a contribuir para que a cidade ultrapassasse um dos momentos mais difíceis da vida municipal. Por muito que lhes custe, o Bloco não deixará de reclamar o cumprimento de cada uma das propostas do acordo e de lutar pelo seu programa próprio para Lisboa.

Repare-se que, umas semanas antes, o PS andava a mendigar uma coligação com a Esquerda em Lisboa. Puro exercício de hipocrisia política, como ficou revelado no congresso de Espinho. Caiu a máscara, ficou apenas a retórica e nada mais. Ficaram também as subtilezas argumentativas de Santos Silva, António Costa e José Lello – a mesma luta!

Pedro Soares

2 comentários:

Anónimo disse...

Segundo o Sol on line de hoje, agora foi o José Junqueiro a atacar o BE, a proposito das taxas moderadoras.

Parece que o partido da cassete é agora o PS

Anónimo disse...

Caros Senhores,

"Mendigar" foi a palavra adequada?

Trauliteiros? Voçês agora são os +unicos donos da verdade? Quem lhes atribiui tal alvará? Chamar mentiroso a uma pessoa é ser "educado"?. Talvez seja para Voçês, não é certamente para a grande maioria dos portugueses. Com o Vosso lamento e com o Vosso trabalho de profetas da desgraça.
Ajudem a que as coisas melhorem.
Não querem porque querem estar sempre do lado do "contra" puro e simples. Isso não custa nada.
Custa é ter que trabalhar todos os dias para que as coisas melhorem. Por muito que isso lhes custe.
Tenham um BOM DIA!