CONTENTORES EM ALCÂNTARA: SERÁ MESMO NECESSÁRIO?
Vejamos um pouco de história. O cais de Alcântara só muito recentemente (meados dos anos 80) passou a movimentar contentores. Lembramo-nos ainda do cais de Alcântara como uma gare marítima, estando ainda gravado na nossa memória o embarque das tropas para as antigas colónias, nos anos 60. Ainda nos anos 90 os planos do porto de Lisboa passavam por melhorar as condições daquele cais para o movimento de paquetes, tendo inclusivamente sido realizadas obras de reabilitação do contíguo cais da Rocha do Conde de Óbidos, das quais eu próprio fui o responsável pelo projecto das estruturas.
Há três ou quatro anos dá-se, contudo, uma grande viragem; a ideia passou a ser pôr os paquetes em Santa Apolónia, enquanto Alcântara passava a ficar reservada para os contentores. É, pelo menos, estranho. Ocupando Alcântara uma posição muito mais nobre e central, porque é que os paquetes hão-de ir para Santa Apolónia e os contentores hão-de estar em Alcântara? Mas, se a esta troca é estranha, mais estranho é ouvir-se falar em aumentar a capacidade do terminal. Então, não haverá outros portos, como Setúbal ou Sines (cujo terminal está a ser ampliado), que podem movimentar esses contentores?
(...)
Ora, existe um local no porto de Lisboa que tem condições privilegiadas para instalar um grande terminal de contentores. Trata-se do antigo cais da Siderurgia Nacional, no Seixal. Além de uma enorme área disponível (quase cem hectares), esta zona passou recentemente a dispor de uma excelente serventia ferroviária, com a construção do ramal que ligou as fábricas da Siderurgia Nacional e da Lusocider ao Eixo Norte-Sul, em Coina. Além disso, fica próximo da futura plataforma logística do Poceirão, onde poderá ser feito o transbordo dos contentores. Claro que será preciso dragar mais profundamente o canal fluvial do Barreiro, mas isso serão "trocos" em comparação com os benefícios duma tal localização.
Há três ou quatro anos dá-se, contudo, uma grande viragem; a ideia passou a ser pôr os paquetes em Santa Apolónia, enquanto Alcântara passava a ficar reservada para os contentores. É, pelo menos, estranho. Ocupando Alcântara uma posição muito mais nobre e central, porque é que os paquetes hão-de ir para Santa Apolónia e os contentores hão-de estar em Alcântara? Mas, se a esta troca é estranha, mais estranho é ouvir-se falar em aumentar a capacidade do terminal. Então, não haverá outros portos, como Setúbal ou Sines (cujo terminal está a ser ampliado), que podem movimentar esses contentores?
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Ora, existe um local no porto de Lisboa que tem condições privilegiadas para instalar um grande terminal de contentores. Trata-se do antigo cais da Siderurgia Nacional, no Seixal. Além de uma enorme área disponível (quase cem hectares), esta zona passou recentemente a dispor de uma excelente serventia ferroviária, com a construção do ramal que ligou as fábricas da Siderurgia Nacional e da Lusocider ao Eixo Norte-Sul, em Coina. Além disso, fica próximo da futura plataforma logística do Poceirão, onde poderá ser feito o transbordo dos contentores. Claro que será preciso dragar mais profundamente o canal fluvial do Barreiro, mas isso serão "trocos" em comparação com os benefícios duma tal localização.
Extratos do artigo de Pompeu Santos no DN de hoje
3 comentários:
Apoiado!
Este artigo do Engº P.Santos é mais um daquela linha onde está manifesto o desprezo de muitos lisboetas para com a qualidade de vida na margem Sul: para eles, toda a frente de rio, os turistas, etc; para nós, as muralhas de aço conformadas pelos contentores que não querem, o tráfego rodo ou ferroviário que ia chatear a "pacatez" dos bairros lisboetas semi-abandonados ou prontos para serem reconvertidos, etc. Suponho que só a sede, os paquetes e os iates do porto "de Lisboa" ficassem na cidade propriamente dita, nesta perspectiva. Tudo o indesejável é botado para a outra margem (porto, aeroporto, indústria), de preferência escondido do sistema de vistas...
cmpts
Acabei de ver o Prós e Contras sobre a questão dos contentores. Mais uma vez se pôde observar uma característica levada à forma de arte pelo nosso povo. Como nós, portugueses, gostamos de ver o outro a sair-se mal, o ministro a cair, o projecto a ser chumbado, o enxovalhamento público. Lá fora também há debate, emoções, visceralidades, mas connosco isso é impeditivo de progresso. Não precisamos de inimigos nem concorrentes exteriores com o que temos cá dentro: uma falta de estima pelo mesmo, pelo outro que somos nós que dá tristeza. É fatal.
Quanto à questão do debate não me consigo posicionar pois não tenho dados suficientes. À primeira vista se houver um outro lugar que não Alcântara tambem me parece melhor. Aquele lugar deveria ser preferencialmente para o lazer e contemplação. Mas por amor da Santa poderiam os senhores políticos e opinion makers ser mais objectivos e menos viscerais. Nós merecemos e qualquer debate por muito curto e sempre inconclusivo também.
Carlos Raposo, Lisboeta
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