SOBREVIVÊNCIA
O negócio em Lisboa para uma coligação autárquica do CDS-PP com o PSD tem pouca relevância em termos eleitorais, mas não deixa de ser revelador. Depois das tonitruantes afirmações de Paulo Portas, no congresso do CDS, sobre o partido que não será “bengala ou muleta” de outros partidos, nem irá pedir “batatinhas” a ninguém, a decisão de se colocar debaixo da asa de Santana Lopes acaba por não ser completamente estranha. Aliás, segundo a imprensa, circula que esse acordo já existe.
De facto, o CDS, que chegou a presidir à CML no tempo de Nuno Abecassis, representa actualmente muito pouco em Lisboa. Ficou-se pelos 3,7 por cento nas intercalares para a Câmara, no Verão de 2007, e perdeu o seu único vereador em Lisboa. Tinha tentado um último fôlego em 2005, com a candidatura de Maria José Nogueira Pinto, mas depois não correu bem. Antes de renunciar ao mandato, constituiu-se, quase até ao fim, como sustentáculo de um executivo do PSD que se desfez em dívidas, incompetência e falta de transparência, e que precisava do voto do CDS para ter maioria.
Foi precisamente Anacoreta Correia, o vereador que substituiu Maria José e apanhou com os cacos de um Câmara em desagregação, que se opôs, na recente reunião dos centristas em Lisboa, à coligação com o PSD. Não é difícil supor porquê e chega a ser esclarecedor, tendo em conta que se trata de alguém que viveu por dentro e sofreu na pele o desastre que foi o fim do conturbado ciclo das presidências do PSD no município, primeiro de Santana Lopes e depois de Carmona Rodrigues.
Porém, há que reconhecer que um traço comum muito forte e talvez determinante une em Lisboa as candidaturas do PSD e do CDS. Ambas estão animadas de um reptílico instinto de sobrevivência, que em nada se prende com os interesses de Lisboa, mas tão só com os das respectivas clientelas e direcções partidárias. O CDS corre o risco de desaparecer do mapa político de Lisboa e Santana Lopes também depende desta operação. Ambos olham para as autárquicas na capital como uma bóia de salvação para as suas aspirações.
Os lisboetas certamente que não repetirão a experiência, enquanto se lembrarem do que foi aquele ciclo. Lisboa precisa que a cidade seja a sua prioridade e não se espera que essa “boa nova” possa sair do negócio que se desenha entre a direita.
Pedro Soares
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