sexta-feira, 17 de abril de 2009

Que unidade?

Nas eleições intercalares de 2007, em Lisboa, o PS deu sinais evidentes de incapacidade para qualquer processo sério de convergência à esquerda. A ruptura com Helena Roseta e o surgimento de uma bem sucedida candidatura de cidadãos, demonstrou que o PS se tinha tornado repulsivo e criava espaços significativos de oposição à sua política, dentro da sua própria área tradicional de influência.

No entanto, era preciso restabelecer a confiança dos cidadãos na autarquia, enfrentar a falta de transparência e o clientelismo que grassou durante o consulado Santana Lopes/Carmona Rodrigues, concentrar esforços na recuperação de uma Câmara falida, virar a política autárquica para os problemas mais sérios e prementes da cidade. Esse foi o contributo que o Bloco não recusou.

Porém, o PS na Câmara de Lisboa falhou, novamente, apesar das expectativas que António Costa tinha gerado como alternativa à governação da direita. Falhou, porque não conseguiu respeitar a oposição, preferiu tentar capturá-la, não cumpriu os aspectos mais essenciais do seu programa eleitoral, nem sequer o programa mínimo que livremente estabeleceu com o Bloco, não apostou no regresso das pessoas à cidade, nem no planeamento urbano como princípio democrático e participativo.

O caso que já se adivinhava, mas que foi recentemente confirmado pelo próprio presidente da Câmara, de não apresentação de uma mera proposta (já nem se fala em aprovação!) de revisão do Plano Director Municipal (PDM) durante o actual mandato, depois de todos os prazos razoáveis para tal terem expirado, é o exemplo acabado da fuga aos compromissos e de uma política em que o diálogo, a participação e a consertação, que o planeamento e a construção de cidade devem implicar numa perspectiva democrática e de esquerda, são completamente subestimados. Todavia, mesmo sem um PDM conforme a realidade actual da cidade, as operações urbanísticas avançam, casuisticamente.

Quem poderá ter interesse neste estado de coisas? Sempre os mesmos, obviamente! E esta prática faz toda a diferença em relação ao período em que a coligação de esquerda liderada por Jorge Sampaio esteve à frente da Câmara. Durante esses anos, a oposição e os aliados foram convidados a participar nos processos de decisão e o planeamento democrático presidia à concepção de cidade, independentemente das posições divergentes que naturalmente surgissem. São diferenças, entre muitas outras, absolutamente fundamentais.

De facto, lamentavelmente, o actual presidente da Câmara de Lisboa colocou-se, certamente por opção, já que é um político experiente, numa situação de inteira impotência para gerar uma dinâmica de esquerda e de unidade na cidade, apesar da boa vontade de alguns, certamente genuína, nesse sentido. A sua intervenção no congresso do PS foi esclarecedora sobre em que conta tem a oposição de esquerda. E se é daquela forma que António Costa trata os que diz querer para aliados, seria preferível, em nome da transparência, da lealdade e da higiene política, que se assumisse como adversário.

Pedro Soares

19 comentários:

Anónimo disse...

Tentou capturar a oposição e conseguiu, pelo menos um (que afinal nunca foi oposição).

Anónimo disse...

«António Costa...Falhou, porque não conseguiu respeitar a oposição, preferiu tentar capturá-la»


não podia eu estar mais de acordo, e agora tenta António Costa capturar a Renovação comunista.


António

João disse...

Tudo isso é verdade. No entanto, a intervenção de António Costa no congresso poderá ser interpretada como um ataque aquilo que ele mais teme: o não ter como rejeitar uma coligação de esquerda, ficando assim mal visto diante do seu eleitorado, perante uma situação de cada vez maior fragilidade do PS devido ao governo e ao caso Freeport. O seu discurso terá sido no sentido de desinteressar o bloco esquerda nessa coligação, de modo a que não fique ele como responsável pela sua inexistência. E pelos vistos conseguiu. A prova é que se diz aberto a ela e o Bloco já rejeitou essa possibilidade.

A meu ver, teria sido mais inteligente da parte do Bloco não fazer a vontade a António Costa. Fazer orelhas mocas à sua encenação teatral do congresso, e propôr uma coligação alargada com Helena Roseta e porventura o PCP, diluindo a influência do PS, salvando Lisboa de Santana Lopes e dos abutres do PS e da construção civil, aproveitar a mais valia que é Sá Fernandes (como o tem demonstrado no seu trabalho na CML), e acima de tudo agregar todos aqueles que se sentem perdidos num vazio de alternativa e que vão acabar no voto útil em António Costa.

É esta a minha maior crítica ao BE. A sua incapacidade de tentar alianças encostando o PS à parede aproveitando os seus momentos de fragilidae, como agora estava em posição de o fazer em Lisboa.

Anónimo disse...

Sá Fernandes tornou-se um peso e não uma mais-valia. O comportamento dele é uma das razões para que não haja coligação em Lisboa. Não há partido que possa aceitar boamente que os seus eleitos sejam capturados. A atitude capturante de António Costa é outra das razões. Não é sério fazer uma coligação para andar a comer nos aliados. Elementar, não é?

Anónimo disse...

Olhe lá João, como é que encaixa a posição da Helena Roseta nessa sua rebuscadíssima análise? É que ela também não aceita, nem os que estão mais próximos de Costa querem alianças com ele. Pudera!

Anónimo disse...

Quer dizer, o António Costa papa o vereador ao BE e este ainda lhe ia propor uma coligação?!!! Palavra de honra, essa seria pior do que corno manso.

Anónimo disse...

O João tem razão numa coisa pelo menos. O PS nunca quereria uma coligação com os bloquistas em Lisboa. Agora o Bloco já não mandaria para vereador um qualquer Zé. A coisa ia fiar mais fino e o PS não corre esse risco. As negociatas obrigam.

Anónimo disse...

A política faz-se com seriedade. Não se vai propor uma coligação só à espera que o outro diga que não. Isso é enganar as pessoas. Se alguém propõe uma coligação deverá ser porque a quer mesmo. E, óbviamente, o BE não pode querer uma coligação com este PS em Lisboa.Está claro que este PS não deixou de ser o PS dos interesses e dos negócios.

Anónimo disse...

Os renovadores comunistas estão a levar a água ao moinho do António Costa. Vieram propor unidade da esquerda em lisboa, mas disseram logo quem lideraria a coligação. Faltou-lhes algum pudor. Tal como à dupla Sá Fernandes/Aranda que pareciam dois abutres na conferência que os renovadores promoveram para lançar uma subscrição pela coligação. Ainda vão aparecer na lista do PS como representantes dos subscritores. Apostas?

João disse...

"Sá Fernandes tornou-se um peso e não uma mais-valia."
Não partilho dessa opinião. Baseio-me no trabalho desenvolvido como vereador e não jogos de poder e atritos pessoais.

"A atitude capturante de António Costa é outra das razões."
Se capturar pessoas que desenvolvam um bom trabalho de uma forma independente, óptimo.

"É que ela também não aceita, nem os que estão mais próximos de Costa querem alianças com ele."
Quanto a mim esse é que é o problema, cada um pensa por si e pelo seu orgulho pessoal. Se o BE , a Roseta, renovadores comunistas, independentes de esquerda e eventualmente o PCP se juntassem e propusessem uma coligação ao Costa, ele não tinha como aceitar e o poder do PS na constituição das listas ficaria muito diminuído.

"Quer dizer, o António Costa papa o vereador ao BE e este ainda lhe ia propor uma coligação?!!! Palavra de honra, essa seria pior do que corno manso."
Esse é que é o problema do BE. Ofendem-se muito facilmente. São muito emocionais e são muito orgulhosos. E o Costa sabe-o bem. Se querem ser um partido útil comecem a pôr o interesse público à frente de orgulhos pessoais e partidários.

"A política faz-se com seriedade. Não se vai propor uma coligação só à espera que o outro diga que não."
Obviamente que a propôr uma coligação com o PS seria com objectivo que ela se fizesse. Há que impôr condições e passar a responsabilidade para o PS. Ou será que o BE tem medo da rejeição?

"E, óbviamente, o BE não pode querer uma coligação com este PS em Lisboa.Está claro que este PS não deixou de ser o PS dos interesses e dos negócios."
Por o BE pensar assim é que se auto-limita na sua capacidade de travar esses interesses e negócios.

Anónimo disse...

Marcelo Rebelo de Sousa, no sua palestra de domingo acaba de falar de uma sondagem da Marktest publicada este fim de semana.

Alguem viu essa sondagem....

Alguem pode publicar se souber quais foram os resultados.

Anónimo disse...

Se o Bloco não apresentar uma candidatura muito forte e abrangente, o resultado ficará muito aquem das espectativas.

Muita gente de esquerda, pode sentir-se tentada a votar Costa para travar o passo ao Santana, e com tantas candidaturas á esquerda a direita mesmo em minoria regressar á presidência da Camara, com uma candidato, perfeitamente mediocre como o Lopes , que fará Lisboa regredir mais uns anos.

O Papão é meu puke disse...

Higiene Partidária! Que púdico este Pedro Soares!

O bem sucedido Movimento de Cidadãos da Helena Roseta! Bem sucedido onde? Que trabalho notável têm vindo a fazer essas senhoras?

Com o BE isto fia fininho. Sim o grande candidato Luís Fazenda vai fazer diferença a Lisboa.

O PS papou o Zé ao BE - blablablabla - afinal o Zé foi mas é roubado ao BE e não o BE que o abandonou. O BE não pode fazer nada quando estava no executivo puke o mau do PS é anti-democrático, puke o Zézé deixou-se comprar, puke, puke, puke...

São todos iguais, ninguém escapa.

Pedro Soares reforma-te!

Bloco vai mas é concorrer nos núcleos rurais pode ser que mostres mais competência.

Anónimo disse...

Ou seja, é lógica do BE, o alinhamento integral.
Sá Fernandes sempre pensou pelo sua cabeça. Quam andou a reboque de SF foi o bloco. ESSA É QUE É A VERDADE, NUA E CRUA.

Se aparecesse algum SF, com discurso de bota-abaixo, incapaz de participar positivamente, seria o novo salvador, o novo D. Sebastião do Bloco.

Sem novo D. Sebastião vem um velho D. Sabastião.

Que tenha saúde. E que a mim não me falte.

Anónimo disse...

agora parece que o novo salvador da pátria se chama Luís Fazenda.

Por aí se vê a vitalidade do Bloco.

Não havia mais ninguem?


Ou Fazenda vai deixar aquele bom emprego de deputado em troca de uma eventual vereaçao sem pelouro e sem remuneração?

Não arrsiquem a que ele aceite pelouros. Muda logo e é mais um a desertar,

Anónimo disse...

Posso respeitar a luta que durante anos Sá Fernandes travou por Lisboa.

Posso respeitar a sua coragem na denuncia da corrupção na Camara no tempo do Santana e do Carmona, e a sua coragem no caso BragaParques.

Não o posso apoiar quando defende negocios como o da Mota Engil em Alcantara.

Quando defende a vereadora Ana Brito.

Quando esquece o programa que apresentou aos eleitores .

Quando esquece que sendo independente , teve a apoiá-lo diferentes cidadãos mas tambem o BE, e os militanes e simpatizantes do BE , empenharam-se nas suas duas campanhas.

Isso não deve ser esquecido, por muito que eu ache, que foi mau para o Bloco mas tambem para Sá Fernandes esta rotura politica.

Fazenda anda nisto há muito anos, não sei se seria o tal candidato que neste momento o Bloco precisava, eu apoiava mais a hipotese Ana Drago.

Mas ninguem pode acusar o Bloco de sectarismo, pois quando Antonio Costa assinou um acordo com o BE era para ser cumprido.

E Antonio Costa esqueceu-se dos compromissos, casos Epul Gebalis etc.

Fazer politica , e ser coerente é apresentar um programa aos eleitores e cumpri-lo.

Para Troca-Tintas e oportunistas, já nos chegou o Santana-Carmona e toda a cáfila de tachistas e corruptos que esses senhores meteram na Camara de Lisboa.

Anónimo disse...

Bom comentário.

Diga lá então porque não foi a Ana Drago?

E diga também quais os compromissos AC/BE sobre a EPUL e a GEBALIS.

A postura do Bloco tem apenas como resultado facilitar a vida a Santana Lopes. Essa é a verdade e todo o resto é mais ou menos folclore.

Anónimo disse...

O problema da vinda do Santana é para o Zé que perde o tacho e tem de voltar para a miséria do escritório dele.

Anónimo disse...

Pois!

E os assessores do Bloco para onde vão?

É que esses não têm escritório.